Com sala exclusiva e narrativa visual, MON vira referência nacional em acolhimento de autistas

19/12/2022
Um espaço calmo, com luz reduzida, pouco barulho e mobiliário planejado. Essa é a sala de acomodação sensorial criada pelo MON, Museu Oscar Niemeyer em junho deste ano para atender o público autista. É um dos principais projetos de inclusão pela cultura do museu, que pertence ao Governo do Paraná, acabou de completar 20 anos e é o maior da América Latina. A sala é um espaço para que pessoas autistas ou neurodivergentes possam se autorregular em caso de necessidade. Ela é importante porque o museu é um espaço de estímulos e a sala foi pensada para que estas pessoas tenham um local onde possam permanecer por um tempo. Ela está localizada em frente à Sala 01, no 1° andar do edifício principal. Além desse espaço exclusivo, os visitantes autistas também recebem, já na entrada, um cordão de girassóis, que é o símbolo internacional que identifica pessoas com deficiências não visíveis. Eles ainda têm acesso a abafadores de ouvido. Tanto o cordão como os abafadores ficam como recordações para serem utilizados em outros lugares. O MON ainda oferece aos seus visitantes autistas ou neurodivergentes materiais para auxiliar no planejamento da visita: a Narrativa Visual mostra, por meio de imagens e textos curtos, o que se pode esperar, e o Mapa Sensorial indica quais são os estímulos sensoriais mais comuns. A história por trás desse trabalho é tema da série “Paraná, o Brasil que dá certo”. Com essa sala, o MON atende uma das suas principais diretrizes, que é o programa de democratização da arte a todos os públicos, inclusive aqueles que sofrem com barreiras invisíveis. Fazem parte desse grande circuito, ainda, empréstimo de cadeiras de rodas, atendimento prioritário a pessoas com deficiência, legendas em braile, audiodescrição do percurso e das obras e empréstimo gratuito de audioguias. Juliana Vosnika, diretora do museu, explica que o foco da instituição é atender os diferentes públicos da melhor forma possível. //SONORA JULIANA VOSNIKA//

O NAP, Núcleo de Acesso e Participação foi criado em 2019 e é formado por uma equipe multidisciplinar com a missão de melhorar as condições de acesso dos diferentes públicos, complementa Juliana. //SONORA JULIANA VOSNIKA//

A arquiteta Marina Pasetto Baki, que trabalha no MON, é autista e esteve à frente da consolidação do projeto. //SONORA MARINA BAKI//

Ela também participou da construção da Narrativa Visual. Trata-se de um passo a passo que mostra, de forma detalhada, tudo o que uma pessoa pode esperar em uma visita ao MON. //SONORA MARINA BAKI//

A Agência Estadual de Notícias acompanhou uma visita de um grupo de autistas ao MON em novembro, todos com menos de 18 anos. Israel França é frequentador assíduo e fala que, com a sala, a visita ficou ainda melhor. //SONORA ISRAEL FRANÇA//

Essa história ganha novos contornos com o apoio da sociedade civil. Elyse Matos, que é mãe de um adolescente autista, sentia na pele a experiência de falta de espaços e terapias adequadas até criar o Ico Project, um centro de desenvolvimento físico especializado em adolescentes e crianças com algum tipo de atraso no desenvolvimento como Transtorno de Espectro de Autista e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Além disso, ela gerencia uma fundação sem fins lucrativos que atende autistas e familiares. No MON, encontraram espaço para estimular esses jovens. //SONORA ELYSE MATOS//

Para ela, a sala de acomodação dá alívio e segurança para os pais e, para o usuário, a certeza de ser acolhido. //SONORA ELYSE MATOS//

Ceres Oriana Scottini, terapeuta do projeto, conta que a sala traz momentos de tranquilidade e destaca a importância de existir um museu público com essa regulação. //SONORA CERES SCOTTINI//

De acordo com Instituto Brasileiro de Museus, não há informação de que outro museu brasileiro tenha uma sala de acomodação sensorial semelhante à do MON. Segundo a entidade federal, as instituições museuais ainda estão começando a implementar iniciativas de acolhimento às pessoas atípicas. Outro detalhe que dificulta a acessibilidade nos museus, segundo o Iphan, é o fato de a maior parte das instituições vinculadas ao órgão estarem sediadas em edificações dos séculos XVIII, XIX e XX, construídas originalmente para outros usos, como palácios, casas de câmara e cadeia, edificações militares, edifícios de uso religioso, imóveis residenciais e escola. “Paraná, o Brasil que dá certo” é uma série de reportagens da Agência Estadual de Notícias. São apresentadas iniciativas da administração pública estadual que são referência para o Brasil em suas áreas. A primeira abordou o sistema estadual de transplante de órgãos, a segunda a companhia master de dança mais longeva do País e a terceira a cadeia de produção e distribuição de alimentos orgânicos. (Repórter: Alexandre Nassa)