O Setembro Amarelo chama a atenção para a importância de quebrar tabus e ampliar o diálogo sobre saúde mental. No Paraná, o Corpo de Bombeiros Militar (CBMPR) desempenha um papel essencial no atendimento de ocorrências envolvendo tentativas de suicídio, unindo preparo técnico, protocolos de segurança e, sobretudo, uma abordagem humanizada. Em 2024, os bombeiros conseguiram intervir a tempo e preservar vidas em 95% das ocorrências, reforçando a importância da capacitação técnica e do preparo emocional das equipes.
Desde 2011, por meio da Diretriz do Comando Geral nº 005, o atendimento a tentativas de suicídio por vítimas desarmadas é de responsabilidade do Corpo de Bombeiros. Para isso, a corporação investe constantemente em treinamento como o Curso de Capacitação em Negociação em Crises, que prepara militares com aulas práticas, teóricas e simulados em diferentes cenários, de torres de alta tensão a passarelas. O objetivo é formar profissionais técnica e emocionalmente preparados para atuar em situações de risco extremo.
Especializado em ocorrências de alto risco, o Grupo de Operações de Socorro Tático (GOST) é uma unidade de busca e salvamento do CBMPR, criado em 2006, que conta também com bombeiros treinados para negociar em situações de crise. O perfil dos integrantes inclui equilíbrio emocional, capacidade de comunicação e preparo para atuar em diferentes cenários.
O comandante do grupo, major Ícaro Gabriel Greinert, ressalta que a empatia é a principal ferramenta. “As técnicas de negociação nos permitem tentar reverter a situação em tentativa de suicídio por meio da conversa e, em último caso, partir para a intervenção tática, como em casos do bombeiro pegar uma pessoa saltando, situações em que é preciso muito treino. Quando não tínhamos esta técnica de negociação e tirávamos a pessoa da situação sem esta dissuasão, ela ficava mais sujeita a reincidência e é isso que tentamos evitar”, diz.
Para o major Eduardo de Castro, chefe do Centro de Saúde do CBMPR, que também é filho de um oficial bombeiro, a experiência de gerações de profissionais foi revelando a importância de um atendimento humanizado. A rotina de ocorrências mostra que o vínculo estabelecido entre o bombeiro e a vítima é determinante para o desfecho da situação. Ele lembra de uma ocorrência marcante em 2018, na Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu.
“Passei 40 minutos conversando com um rapaz de 23 anos em tentativa de suicídio. No fim, consegui me aproximar, ouvi sua história e, em certo momento, ele me abraçou e chorou. A impressão que tive é que ele precisava de alguém para desabafar. Muitas vezes, esse acolhimento faz a diferença entre a vida e a morte”, relata.
ATENDIMENTO INTEGRADO – Em cada ocorrência, além da equipe de bombeiros, são acionadas ambulâncias para atendimento médico. Após a negociação e a retirada da vítima de situação de risco, o protocolo prevê encaminhamento hospitalar, garantindo a continuidade do cuidado.
Nos casos em que há o envolvimento de armas de fogo ou armas brancas, a Polícia Militar do Paraná atua com protocolos específicos que priorizam a preservação da vida e a segurança de todos os envolvidos. A primeira intervenção é realizada pelas equipes que atuam na área do chamado, seguindo os Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) voltados ao gerenciamento de crises e à tentativa de suicídio.
A atuação envolve o isolamento do local, a criação de barreiras de segurança e a redução de estímulos externos, sempre buscando estabelecer um diálogo técnico e respeitoso com a pessoa em crise, evitando qualquer medida precipitada que possa agravar a situação.
Quando a complexidade da ocorrência exige reforço especializado, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) assume a condução do caso. Suas equipes contam com formação específica em negociação de crises, incluindo disciplinas voltadas à psicologia aplicada, técnicas de abordagem e gerenciamento do estresse, além de treinamentos práticos com simulações de cenários de risco.
O objetivo é padronizar a resposta, reduzir riscos e ampliar a sensibilidade dos policiais diante da gravidade de situações envolvendo armas, aumentando as chances de uma resolução pacífica e segura para todos.
COMO RECONHECER OS SINAIS – O Corpo de Bombeiros reforça que a prevenção começa com cada pessoa. É possível oferecer apoio a familiares e amigos ao identificar sinais de alerta como: Ficar atento a mudanças bruscas de comportamento (isolamento, silêncio excessivo, pessimismo); Ter empatia, sem menosprezar ou invalidar a dor do outro; Teconhecer que o sofrimento emocional é uma condição à qual ninguém está imune; e estimular a busca por apoio profissional, como se faz diante de qualquer outra doença.
Em situações de risco, a orientação é acionar imediatamente o Corpo de Bombeiros pelo telefone 193. Para apoio emocional, o Centro de Valorização da Vida (CVV) atende de forma gratuita e sigilosa pelo número 188 ou pelo site www.cvv.org.br.