Caminhada contra o feminicídio reúne 2 mil pessoas em Curitiba: ato acontece em 181 cidades

Mobilização marcou o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, celebrado em 22 de Julho. Promovida pelo Governo do Estado, mobilização teve a participação de mulheres e homens de todas as idades. O aspecto mais destacado foi a importância da denúncia da violência.
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22/07/2025 - 15:10

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No Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, celebrado nesta terça-feira, dia 22 de julho, mais de 2 mil pessoas se reuniram em Curitiba para a Caminhada do Meio-Dia, iniciativa que busca sensibilizar sobre a violência contra as mulheres e é um ato de memória às vítimas de feminicídio. A mobilização, promovida pelo Governo do Estado, aconteceu na Capital e em outras 180 cidades paranaenses, com a participação de mulheres e homens de todas as idades.

Esta é a terceira edição da caminhada, organizada pela Secretaria de Estado da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa (Semipi), em parceria com a Casa Civil, a Defensoria Pública e outros órgãos. Segundo a secretária Leandre Dal Ponte, da Semipi, o objetivo é sensibilizar a sociedade para a urgência do enfrentamento à violência de gênero e valorizar as políticas públicas em defesa da vida das mulheres.

“É importante registrar que a violência não é um problema privado, mas uma ferida social. A Caminhada do Meio-Dia, que nasce da dor mas caminha na esperança por um mundo melhor, é um ato público de mobilização, conscientização e, principalmente, uma manifestação clara de que a violência contra a mulher não é mais aceita em nosso Estado”, afirmou.

Leandre ressaltou a participação em massa da sociedade paranaense na mobilização em prol das mulheres. “Precisamos de homens e mulheres de todas as idades, etnias e credos que se levantem junto conosco e possam levar essa mensagem para que aquelas mulheres que sofrem violência entendam que não estão sozinhas e se encorajem a fazer a denúncia”, ressaltou.

Fátima Rigoni se juntou à caminhada porque a filha, Franciele Gusso Rigoni, foi vítima de feminicídio. A mulher de 36 anos foi assassinada em 2023 pelo marido na própria casa, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. “Este é um ato em que a gente tem a oportunidade de fazer a sociedade refletir sobre a morte de tantas mulheres. Minha filha foi assassinada pelo marido por causa de um seguro de vida”, contou.

“Nem eu e nem a irmã, que era muito próxima dela, conseguimos perceber o que estava acontecendo. Por isso é importante que estejamos atentos e possamos refletir sobre a educação dos nossos filhos e filhas”, disse Fátima. “Temos que levar essa reflexão a toda sociedade. Eu luto como mãe, sou uma mãe amputada, que perdeu uma filha para essa violência. Ninguém vai repor a Franciele na minha vida, mas é ação que eu peço, porque muitas mulheres precisam hoje e muitas ainda vão precisar”.

Representando as religiões de matriz africana, a ialorixá Josiane Dasgostini destacou a importância da união de pessoas de todas as cores e credos no combate à violência de gênero. “O silêncio traz a agressão, então se não nos mobilizarmos, a agressão pode ser cada vez maior. Nós, enquanto mulheres, temos que perder o medo de falar das violências que sofremos. A denúncia contra o feminicídio e a violência de gênero têm que ser falado. Por isso a mobilização do Estado e da sociedade civil é tão importante, porque conscientiza as mulheres para que possamos ser livres”, disse.

Eliana Arantes Bueno Salcedo preside o Movimento Mulheres que se Importam, criado em 2013 na Primeira Igreja Batista de Curitiba. “Somos um movimento sem placas e apartidário, que atua na prevenção da violência contra as mulheres. Já participamos da caminhada no ano passado e considero muito importante essa união dos órgãos municipais e estaduais com a sociedade civil. Precisamos de políticas públicas para as mulheres e de união para enfrentar a violência”, ressaltou.

Participante da ONG Mulheres Unidas, do bairro Tatuquara, Eva Gouveia também se uniu à mobilização. “Trabalhamos com idosos e crianças e sabemos como a união das mulheres ajuda a transformar a sociedade. Cada um fazendo um pouquinho, conseguimos fazer a diferença. Procuramos passar para todo mundo que atendemos que o ‘não é não’ e que devemos estar todos juntos lutando contra o feminicídio”, destacou.

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Foto: Arnaldo Neto/AEN


INICIATIVAS – A Caminhada do Meio-Dia faz parte de uma série de medidas adotadas pelo Governo do Estado para enfrentar a violência contra as mulheres e prestar auxílio necessário às vítimas. Uma delas é o programa Recomeço, que prevê o pagamento de um auxílio às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

O valor equivale a 50% do salário-mínimo nacional para mulheres em situação de vulnerabilidade, permitindo que reconstruam suas vidas com segurança e autonomia. O programa, que está em fase de implantação, também estabelece ações integradas com empresas privadas e a sociedade civil, ampliando as oportunidades para as beneficiárias.

O Paraná também conta com o Fundo Estadual dos Direitos da Mulher (FEDIM/PR), que fornece suporte financeiro para o planejamento, implementação e execução de planos, programas e projetos voltados à promoção e defesa dos direitos das mulheres. O primeiro grande aporte, de R$ 30 milhões, beneficiou 178 municípios. Desde a criação do fundo, o Estado tem desenvolvido uma série de ações e projetos que visam promover o sistema de governança, igualdade de gênero, combater a violência contra as mulheres e fortalecer a rede de apoio.

Outra ação relevante foi a criação do Comitê Interinstitucional de Enfrentamento às Violências, com plano de metas integrado, responsável pela articulação em todas as esferas de governo, com olhar mais abrangente sobre as políticas para mulheres.

O governo também criou a Caravana Paraná Unido Pelas Mulheres, que percorreu todas as regiões para auxiliar as administrações municipais a montarem estruturas de gestão próprias focadas nas mulheres para facilitar o acesso delas aos projetos e recursos estaduais para este público.

Desde então, houve uma grande ampliação nas redes municipais de políticas para as mulheres. Os Fundos Municipais da Mulher passaram de 64 para 195; os Conselhos Municipais da Mulher cresceram de 89 para 224 e Organismos de Políticas para Mulheres saltaram de 17 para 135 em todo o Estado.

DIA ESTADUAL – O Dia Estadual de Combate ao Feminicídio foi estabelecido pela lei 19.873/2019, sancionada pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior em junho de 2019. A data de 22 de julho foi escolhida em referência à morte da advogada Tatiane Spitzner, assassinada pelo marido em 2018, em Guarapuava.

COMO DENUNCIAR – Qualquer pessoa que presencie situações de violência doméstica pode fazer a denúncia. Em casos de emergência ou quando o ato está em andamento, deve-se ligar para a Polícia Militar, no número 190. Também é possível fazer a denúncia pelo Disque 181 ou no site www.181.pr.gov.br e ainda no Disque 180, do governo federal, que também está disponível via whatsapp, no número (61) 99610-0180.

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Foto: Ari Dias/AEN


PRESENÇAS – Também participaram da caminhada o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Alexandre Curi; os secretários estaduais das Cidades, Guto Silva; da Justiça e Cidadania, Valdemar Bernardo Jorge; do Desenvolvimento Social e Família, Rogério Carboni; do Desenvolvimento Sustentável, Rafael Greca; do Planejamento, Ulisses Maia; e da Administração e Previdência; Luizão Goulart.

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