Comitiva do Piauí conhece programa de transporte aéreo de órgãos do Paraná

Ideia é implantar no estado nordestino as boas práticas de transporte que fazem do Paraná o líder nacional em doação de órgãos. O uso múltiplo de aeronaves foi que mais chamou a atenção da equipe piauiense.
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27/08/2025 - 12:20
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A Casa Militar do Governo do Paraná recebeu nesta quarta-feira (27) uma comitiva do Gabinete Militar do Estado do Piauí. O objetivo da visita foi conhecer a estrutura paranaense utilizada no transporte de órgãos e equipes médicas, considerada uma das mais ágeis do País, com aviões e helicópteros disponíveis 24 horas por dia para o transporte de órgãos. Esse trabalho é feito com o apoio da Secretaria de Estado da Saúde.

O Paraná é líder nacional em doação de órgãos. Em 2024, registrou 42,3 doadores por milhão de população, mais que o dobro da média brasileira, segundo dados do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), elaborado e divulgado pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).

Esse resultado é garantido por uma rede organizada de captação e transplantes e pelo apoio logístico da Casa Militar, responsável pelo transporte aéreo em situações que exigem rapidez. Cada tipo de órgão tem um limite de isquemia – o tempo de retirada do órgão até ser implantado em outro paciente. O coração é o mais sensível (cerca de 4 horas), o fígado resiste por volta de 12 horas e o rim até cerca de 36 horas.

De 2019 até 2024 foram realizadas 654 missões aéreas para transplantes, somando mais de 1,8 mil horas de voo. Somente no ano passado, 832 órgãos foram transplantados no Estado, sendo que 250 dependeram de transporte aéreo, entre eles corações, fígados e rins – órgãos que precisam ser implantados em prazos curtos para garantir a sobrevida do paciente.

Segundo o major Alessandro Maceno, da Casa Militar do Paraná, a vinda da equipe do Piauí faz parte de um processo de estudo. “Eles vieram buscar a expertise que desenvolvemos aqui no transporte aéreo, desde os contratos de combustível até a aquisição de aeronaves, para entender o modelo que aplicamos e avaliar como podem implementar algo semelhante lá”, disse.

Além da eficiência, o fator econômico também chamou a atenção da comitiva. Enquanto o Estado do Piauí gasta em média R$ 35 mil por hora de voo em contratos terceirizados, no Paraná o valor é de aproximadamente R$ 10 mil, já incluindo custos administrativos, que conta com 16 pilotos para cinco aeronaves e três pilotos para um helicóptero.

De acordo com Rodrigo Alcântara de Almeida, assessor técnico do Gabinete Militar do Estado do Piauí, o modelo paranaense se destacou pelo uso múltiplo das aeronaves. “O que achamos mais interessante é a integração com a Central de Transplantes, porque as aeronaves não ficam restritas ao transporte de autoridades, mas também ajudam a salvar vidas e, ao mesmo tempo, diluem custos de manutenção e operação”, disse.

TRANSPLANTES – Secundado dados do RBT, o Paraná manteve em 2024 um volume expressivo de procedimentos, com destaque para os 1.248 transplantes de córnea e os 550 transplantes de rim (52 de doadores vivos e 498 de doadores falecidos). O Estado também realizou 304 transplantes de fígado, seis de pâncreas e 43 de coração, além de 410 transplantes de medula óssea.

Esses números reforçam a liderança de doadores por milhão de população (pmp) nos últimos dois anos e a capacidade do sistema estadual de transformar doações em procedimentos efetivos, resultado de articulação entre hospitais, equipes transplantadoras e a Central Estadual de Transplantes.

A formação continuada é parte central da estratégia. No ano passado foram promovidos dezenas de cursos – entre eles 28 sobre determinação de morte encefálica, 19 sobre o processo de doação e 8 sobre acolhimento e entrevista familiar – além de 75 palestras e ações que alcançaram mais de 1.100 profissionais.

ESTRUTURA E ATENDIMENTO – O Sistema Estadual de Transplantes (SET/PR) é formado pela Central Estadual de Transplantes em Curitiba e por quatro Organizações de Procura de Órgãos (OPOs) em Cascavel, Curitiba, Maringá e Londrina. Ao todo, cerca de 700 profissionais atuam em aproximadamente 70 hospitais notificantes, sustentando 34 equipes transplantadoras de órgãos e 72 equipes de tecidos.

A infraestrutura laboratorial e de bancos de tecidos também dá suporte à rede. Há cinco laboratórios de histocompatibilidade, três laboratórios de sorologia e três bancos de tecidos (dois oculares e um multitecidos). Recentes investimentos em frota terrestre reforçaram a logística local, com 18 automóveis novos, num investimento de R$ 1,9 milhão.

Segundo o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), há 73.937 pacientes ativos na fila nacional; no Paraná, o RBT aponta 3.843 pessoas na espera, enquanto o relatório estadual do SET/PR eleva esse total para 4.176 pacientes.

A rapidez no transporte é um componente decisivo para o sucesso dos transplantes. Segundo levantamento do SET/PR, o Paraná realizou 454 transplantes de órgãos sólidos de janeiro a julho de 2025. Os rins continuam liderando a lista, com 259 cirurgias, seguidos pelo fígado (167). O coração, que exige condições específicas para viabilizar a cirurgia, somou 20 procedimentos no período. Também foram registrados transplantes combinados, como rim e pâncreas (6) e rim e fígado (2).

O conjunto de organização institucional, equipes capacitadas, bancos e laboratórios e a disponibilidade de apoio logístico colocam o Paraná em posição de referência nacional. O Estado também registra uma das menores taxas de recusa familiar do País – cerca de 29% segundo levantamento do RBT de janeiro a março de 2025 – ante uma média nacional em torno de 46%.

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