Dos cursos de corte e costura ministrados pela mãe às aulas de elétrica do pai, Rosilene Erlaine da Silva herdou a paciência e o talento para conduzir cada etapa do aprendizado. E não foi apenas ela: as irmãs Luciane e Juliane também escolheram a docência como caminho. O marido e o filho seguiram os mesmos passos.
Neste 15 de outubro, Dia do Professor, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed-PR) presta homenagem aos 70 mil professores da rede estadual com a inspiradora história da família Silva, que vive e leciona em Paranaguá, no Litoral do Paraná. Uma trajetória construída dentro da escola e da universidade públicas, onde ensinar sempre foi mais que uma profissão.
Com inclinação para as artes, boa parte da família fez faculdade na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Empap) nos cursos de Licenciatura em Desenho, em Artes Visuais, Escultura e Gravura.
A história de Rosilene com a educação começou justamente observando a irmã mais velha, Luciane, que cursava o último ano de Desenho e dava aulas em Curitiba. “Eu passava por um momento de vazio profissional. Não sabia o que queria fazer e acabei seguindo o conselho dela e ingressando na Embap. Foi uma janela que se abriu. Hoje, quase duas décadas depois, damos aula no mesmo colégio em Paranaguá, o Cidália Rebello Gomes", diz.
Ela leciona Artes, Pensamento Computacional e Letras/Português e diz que ser um educador é, antes de tudo, nunca deixar os desafios e as dificuldades ofuscarem o trabalho. “É preciso lembrar que cada estudante sentado em uma sala de aula é um ser humano. Os professores são braços de apoio. A nossa profissão é a mais linda de todas, pois ela consiste em orientar o caminho de muitos ao conhecimento”, afirma.
A professora de Arte Luciane Erleide da Silva, irmã de Rosilene, também recebeu influência dos antepassados, começando pelo avô paterno, que tocava violão e era apreciador de artes visuais.
“Desde criança, eu gostava de ver como ele sorria para as artes e apreciava quadros e músicas. Qualidades que a minha mãe herdou, sempre esculpindo em madeira, ensinando corte e costura, cantando e tocando violão. Eles eram inventores. Uma vez, meu pai criou um órgão eletrônico e uma estação de rádio. Tocava e as pessoas no bairro que sintonizavam na frequência da rádio dele podiam ouvir. A arte sempre esteve presente na nossa casa. Tanto que comecei a fazer cursos na área junto com a minha mãe", diz.
Quando terminou a faculdade, em 2005, Luciane passou no concurso público em Paranaguá e, desde então, atua na mesma escola da rede estadual, em salas de aula do Ensino Fundamental e Médio, onde tem alunos cujos pais foram seus alunos, além de ter lecionado para colegas que hoje são professores. Ela também ensina pintura e origami em um ateliê próprio.
“Me sinto feliz com tantos professores em minha família. Há bastante engajamento e troca de experiências e materiais e como professora, me sinto realizada. Quando entro em sala de aula, diante das mais diversas situações, lembro que, antes de tudo, isso é uma missão divina. Poder fazer parte do aprendizado dos alunos requer responsabilidade, respeito, energia e amor”, ressalta.
Luciane acredita no poder da educação. “São crianças e jovens com histórias diferentes, vivências diferentes e, dentro de sala de aula, é preciso unir todas em busca de formação comum. A aprendizagem permite seguir em frente, é uma das belezas da profissão”, afirma.
Com esse cenário em casa, foi natural que a caçula das irmãs Silva tivesse inclinação para a área educacional, afinal estava no DNA da família. Juliane Elciane da Silva se enveredou pelas artes visuais e mais tarde pela Educação Especial e em Altas Habilidades/Superdotação. Já no segundo ano de faculdade, começou a lecionar na rede estadual de ensino.
Há dez anos na área, Juliane trabalha em duas escolas da Capital, dando aulas de Artes e na Educação Especial. “Me sinto honrada em trilhar essa trajetória. É um caminho de muitos desafios, mas também gratificante”, reflete. "Minhas irmãs me inspiraram muito, inclusive na escolha do curso”, relata a hoje estudante de Psicologia.
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FILHO DE PEIXE – Totalmente influenciado pela família, Henrique da Silva Lima, filho de Rosilene, se formou em Gravura, e cursa Design em Jogos Digitais. Há dois anos, dá aulas de Artes, Pensamento Computacional e Robótica. Essa última constitui-se de curso destinado aos estudantes dos ensinos Fundamental e Médio, preferencialmente em contraturno, que ganhou corpo na rede estadual a partir de 2019.
“Entrei na educação por influência da minha família, especialmente pela minha esposa e minha mãe, buscando novas oportunidades de empregos na cidade, e acabei por ingressar nas escolas do campo/ilhas do Litoral de Paranaguá”, relata. “Muitas pessoas trabalharam com minha mãe ou tia, tinham identificação com elas, e isso no começo causou um certo desconforto. Eu ficava pensando se seria um bom professor. Com o tempo, as angústias ficaram para trás e fiquei mais tranquilo para transmitir o conhecimento".
Para ele, o desafio é despertar o interesse, o pensamento crítico e a criatividade dos estudantes para que possam se desenvolver e compreender a realidade à sua volta e além dela. “No meu entendimento, a educação não é mais só sobre passar conteúdos para o aluno, mas incentivar ele a acessar esse conteúdo e como desenvolver ele na vida, ainda mais diante do contexto de transformações da sociedade”.
Já Lucival Leocádio Kosters Bittencourt, casado com a professora Rosilene Silva, cunhado de Luciane Silva e Juliane e padrasto de Henrique, também tem relação com o magistério, embora não atue na rede estadual. Ele é professor de Informática Básica há 24 anos e ainda está em plena atividade. Também faz questão de celebrar o 15 de outubro. “Dou aula em cursos profissionalizantes há 22 anos contínuos, mas também lecionei no Ensino Fundamental, tendo tido minha primeira experiência com o Ensino Profissional no Senac”, conta.
“Lecionar é um compromisso de vida e uma honra. As milhares de pessoas formadas através de meus cursos e todas as pessoas com quem contribuí para sua qualificação profissional na área da informática, são, de fato, o grande pagamento que guardo em meu coração”, afirma.
15 DE OUTUBRO – Para celebrar o Dia do Professor, a Secretaria da Educação do Paraná (Seed-PR) também está realizando o reconhecimento de docentes da rede estadual de ensino. A partir da percepção de alunos na pesquisa “Fala, Estudante!”, conduzida pela Seed-PR, cerca de 5 mil professores vão receber certificados e chromebooks.
As percepções dos alunos, coletadas ao longo do primeiro semestre por meio de formulários online, foram feitas a partir do trabalho do professor no esclarecimento de dúvidas, realização de atividades práticas, preparação de aula, engajamento nas tarefas, entre outros. A pesquisa foi aplicada nas escolas regulares, nas de ensino profissionalizante, nas de educação para jovens adultos (EJA), colégios cívico-militares (CCM), escolas de educação em tempo integral, escolas do campo, indígenas, quilombolas e também nas ilhas.