Uma cerimônia realizada nesta quarta-feira (26), no Salão de Atos do Parque Barigui, em Curitiba, marcou a abertura oficial da Reunião Regional das Américas do Grupo Consultivo Internacional de Busca e Resgate (INSARAG), rede humanitária global da Organização das Nações Unidas (ONU). O encontro, que vai até sexta-feira (28), reúne representantes de todos os países americanos para debater estratégias de ação do INSARAG para o próximo ano.
O evento integra uma programação de ações do grupo consultivo, iniciadas no último dia 21, que incluem também um curso e que colocam o Paraná como centro de discussões internacionais sobre preparação e resposta a desastres naturais. A organização é do Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR) com coordenação do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), e do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, por meio da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC).
Além de reuniões e da promoção de capacitação técnica internacional, a semana marca também a apresentação da candidatura brasileira para a classificação de uma equipe INSARAG pesada, formada conjuntamente pelos Corpos de Bombeiros Militares do Paraná, de São Paulo e de Minas Gerais, para atuação em ações humanitárias globais de busca e resgate — um marco inédito para o Brasil e para a América Latina.
“A reunião tem a participação de representantes dos escritórios da ONU de Genebra e do Panamá, para quem faremos o pedido oficial de classificação da equipe pesada brasileira no INSARAG. Esta equipe, com bombeiros do Paraná, São Paulo e Minas Gerais, vai integrar a Força Humanitária Brasileira dentro do Plano Nacional de Proteção e Defesa Civil, apresentado na COP30”, explicou o ministro José Solla, coordenador-geral de Cooperação Humanitária da ABC.
“Trazer essa reunião das lideranças do INSARAG nas Américas para Curitiba, tendo o Corpo de Bombeiros Militar do Paraná como anfitrião, é uma grande honra, sobretudo neste momento importantíssimo para o país, em que junto com os colegas de São Paulo e Minas Gerais lançamos a candidatura da primeira equipe brasileira de salvamento classificada pela ONU”, ressaltou o comandante-geral do CBMPR, coronel Antonio Geraldo Hiller Lino.
HISTÓRICO E IMPORTÂNCIA DO INSARAG – Criado em 1991 e vinculado ao Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), o INSARAG estabelece padrões internacionais mínimos para Equipes de Busca e Resgate Urbano e para a coordenação de respostas a grandes desastres como terremotos, inundações e incêndios florestais.
A presença do grupo consultivo da ONU no Paraná reforça o protagonismo nacional do CBMPR em temas de planejamento, resposta e coordenação internacional. Segundo o major Ícaro Gabriel Greinert, do CBMPR, membro do Grupo Técnico de Reconhecimento e Apoio do INSARAG, toda a preparação necessária para conquistar a classificação da ONU traz uma bagagem de conhecimento especializado e treinamento que refletem diretamente na melhoria da qualidade do trabalho da corporação como um todo.
“Ao cumprir a extensa lista de requisitos do INSARAG para receber a classificação, melhoramos muito a capacidade de resposta dentro do nosso País e dentro do Paraná. Já tivemos provas disso com as ocorrências que atendemos das enchentes no Rio Grande do Sul e, recentemente, com o tornado em Rio Bonito do Iguaçu, que aconteceram após o início deste treinamento, em 2023”, explicou o major.
PRIMEIRA EQUIPE PESADA DA AMÉRICA LATINA – As equipes classificadas para atuação pelo INSARAG são divididas nas categorias leve, média e pesada, de acordo com o número de profissionais e capacidade operacional.
Durante a reunião em Curitiba, o governo brasileiro entregará à ONU o pedido formal para a classificação da inédita equipe pesada BRA01, que reunirá bombeiros do Paraná, São Paulo e Minas Gerais. A previsão é de que a avaliação para a classificação seja feita em 2027, após o período de dois anos de preparação exigido pelo INSARAG. Caso o Brasil seja aprovado, a equipe será não apenas a primeira brasileira certificada pela ONU, mas também a primeira da América Latina na categoria pesada.
CAPACITAÇÃO – A programação do grupo consultivo da ONU teve início na sexta da semana passada com o curso do Sistema de Coordenação e Gestão do INSARAG (ICMS). Ministrado na Escola Superior de Bombeiro Militar do Paraná (ESBM), em São José dos Pinhais, ele foi finalizado nesta terça-feira (25), com a formatura dos 29 participantes. Entre eles, além de três bombeiros paranaenses, também estavam militares dos estados de São Paulo e Minas Gerais, representantes da Defesa Civil Nacional e profissionais da Argentina, Colômbia, Cuba, El Salvador e Equador.
O ICMS capacita os participantes no uso do sistema de georreferenciamento empregado pela ONU para padronizar o comando e controle em operações internacionais, garantindo que todas as informações de campo sejam compartilhadas de forma integrada.
O curso na ESBM foi ministrado pelo capitão João Mininel Gonçalves, do Corpo de Bombeiros Militar de São Paulo, com apoio do capitão Maurício Dubas, do CBMPR, que está em processo de certificação para também se tornar um instrutor internacional do sistema.
DESAFIOS DO CONTINENTE AMERICANO – Apesar do INSARAG ter se originado com foco em terremotos, a ONU estima que, atualmente, mais de 80% das demandas internacionais de assistência em desastres estão relacionadas a inundações, o que torna o tema prioritário, merecendo um grupo global com foco neste tipo de ocorrência.
Neste sentido, paralelamente ao ICMS, a ESBM sediou também a Reunião Regional das Américas do Grupo de Trabalho de Busca e Salvamento em Resposta a Inundações. Criado neste ano, o grupo é copresidido pelo major Gabriel, em parceria com um representante do Chile. A proposta é alinhar uma metodologia de resposta a inundações, treinando em conjunto e, futuramente, criar uma equipe regional de resposta a esse tipo de desastre.
“Foi a primeira reunião presencial deste grupo e isso fortalece nosso networking e a construção de protocolos comuns para as Américas”, destacou o major Gabriel. “Como o Brasil enfrenta eventos extremos cada vez mais frequentes, especialmente inundações, é fundamental que o CBMPR esteja alinhado ao que há de mais atualizado em padrões internacionais”.
