Primeiro na América do Sul: Bonde Urbano Digital começa a operar entre Pinhais e Piraquara

Inovação no transporte público, o Bonde Urbano Digital teve a sua primeira viagem realizada entre o Terminal São Roque, em Piraquara, e o Parque das Águas, em Pinhais. Na próxima semana, o itinerário será estendido até o Terminal de Pinhais.
Publicação
09/12/2025 - 11:40
Editoria

O Bonde Urbano Digital (BUD), inovação no transporte público na América do Sul, teve a sua primeira viagem realizada nesta terça-feira (09) com a presença do governador Carlos Massa Ratinho Junior. A rota inicial levará os passageiros entre o Terminal São Roque, em Piraquara, e o Parque das Águas, em Pinhais, ambos na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Já na próxima semana, o itinerário será estendido até o Terminal de Pinhais.

Fabricado pela empresa CRRC Nanjing Puzhen, o BUD é uma combinação entre o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e o Transporte Rápido por Ônibus (em inglês Bus Rapid Transit - BRT), este último criado para o transporte coletivo de Curitiba nos anos 1970. Por meio da tecnologia Digital Rail Transit (DRT), o bonde digital segue por um “trilho virtual”, feito por meio de marcadores magnéticos e sensores no asfalto, sem a necessidade de trilhos físicos.

“O que nos impressiona é a tecnologia. O silêncio dentro do BUD, ar-condicionado, toda a tecnologia embarcada. Temos uma parte do percurso em que ele já é autônomo, o condutor só monitora a máquina e ela faz tudo sozinha. Ouvimos falar muito de carro autônomo, mas você ter um transporte público que anda sozinho na via é algo muito curioso e que nos deixa entusiasmados com a possibilidade de avançar ainda mais nesse projeto”, afirmou Ratinho Junior.

“Se a população aprovar, com certeza iremos avançar com mais investimento nesse sistema. É um modelo que tem um excelente custo-benefício, comparado com metrô e VLT, muito mais barato, e que faz a mesma função, com a mesma capacidade de carga. É uma solução fantástica para o transporte público da nossa Capital e da Região Metropolitana”, acrescentou.

“É uma inovação. Curitiba, que sempre foi vanguarda no transporte público, começando com o Ligeirinho, o BRT com as canaletas exclusivas, o Paraná passa agora a também ser a grande vanguarda para a América do Sul com esse novo sistema, fazendo o nosso Estado ser, mais uma vez, o mais inovador do Brasil também no transporte público”, finalizou o governador.

Com capacidade para até 280 passageiros, o BUD terá o mesmo valor de passagem do transporte convencional, de R$ 5,50. A rota percorrida pelo veículo sairá do Terminal de Pinhais, passando pela Avenida Ayrton Senna da Silva e a Rodovia Dep. João Leopoldo Jacomel até chegar ao Terminal São Roque, em Piraquara, em uma extensão de cerca de 10 quilômetros. Mesmo tendo a tecnologia para ser guiado de maneira autônoma, contará com motoristas durante todas as viagens.

A operação é coordenada pela Agência de Assuntos Metropolitanos do Paraná (Amep), vinculada à Secretaria de Estado das Cidades (Secid). O órgão é responsável pelo transporte público da RMC.

O diretor-presidente da Amep, Gilson Santos, destacou que a implantação do BUD faz parte de uma estratégia para suprir a demanda da Grande Curitiba, que tem visto sua população crescer ano a ano. “Nós temos esse desafio. Pela primeira vez, as cidades metropolitanas superaram a Capital em população. Ou seja, elas crescem mais que Curitiba, e isso deve continuar. Hoje nós temos um fluxo diário gigante, com cada vez mais pessoas vindas das cidades metropolitanas para a Capital, então precisamos repensar o transporte de massa”, explicou.

“O VLT e o metrô têm custos muito elevados e há poucos projetos assim no Brasil. Entendemos que o BUD pode suprir essa necessidade e ser um grande diferencial para os grandes corredores que nós temos, como Fazenda Rio Grande–Curitiba, São José dos Pinhais–Curitiba, Piraquara–Pinhais–Curitiba, Colombo–Curitiba, então nosso projeto futuro é pensar nos grandes corredores e nos grandes volumes de tráfego que temos no deslocamento nessa região”, complementou.

Santos também ressaltou o caráter inovador do Bonde Urbano Digital, mas sem deixar a segurança de lado. “A condução autônoma ainda não está regulamentada no Brasil. O que estamos fazendo aqui é um trecho de demonstração para a população entender que ele pode funcionar de forma autônoma, mas sempre haverá dois motoristas, uma vez que ele é bidirecional”, arrematou.

Para o secretário das Cidades, Guto Silva, o BUD tem potencial para ser um “divisor de águas” no transporte de massa no Brasil. “Esse é um desafio de todas as grandes cidades do mundo: pensar em mobilidade. O cidadão metropolitano precisa se deslocar, e o transporte passa a ser extremamente importante. Nosso objetivo é encurtar o tempo de viagem desse cidadão que trabalha e se movimenta pela região metropolitana”, afirmou.

“O BUD não é trem, não é metrô, não é ônibus, mas reúne o melhor de cada um: a capacidade do trem, podendo colocar mais gente nos vagões; a mobilidade do ônibus, que pode mudar rapidamente de rota; e a agilidade do metrô. Tudo isso com silêncio e sustentabilidade”, ressaltou.

BUD
Foto: Jonathan Campos/AEN


INOVAÇÃO – O Bonde Urbano Digital é um veículo 100% elétrico com pneus, possui 30 metros de comprimento e conta com ar-condicionado e operação bidirecional. A velocidade de deslocamento é maior em relação aos ônibus, chegando a até 70 km/h, ante 60 km/h do sistema BRT. Outro diferencial é a vida útil do veículo, que pode chegar a 30 anos, três vezes mais que o atual sistema de transporte coletivo.

O veículo também possui rastreamento automático, orientação autônoma e proteção eletrônica ativa. Conta com sensores, radares e vídeo, oferecendo maior segurança durante os deslocamentos, uma vez que ele compartilha a via com outros veículos como carros, caminhões, motos e ônibus.

Entre os benefícios do BUD está o menor custo de implantação, que chega a ser três vezes menor que os sistemas VLT; condução automática em vias exclusivas; tempo de implementação curto, chegando a um ano para vias de até 15 quilômetros com cerca de 15 veículos; e potencial para aumento de composição com até quatro carros de 10 metros, ampliando a capacidade para 360 passageiros. Apenas a título de comparação, o maior ônibus em circulação no transporte coletivo da RMC tem capacidade para 250 pessoas.

O fato de ser 100% elétrico também ajuda a baratear custos, uma vez que hoje o sistema é significativamente onerado pelos gastos com combustíveis. O BUD não usa bateria de lítio como outros veículos elétricos, mas supercapacitores, que permitem um carregamento mais rápido e eficiente. Com carga completa, que leva cerca de 12 minutos, possui autonomia de até 40 quilômetros de operação contínua.

OBRAS JÁ CONCLUÍDAS – O sistema inovador trazido ao Brasil pelo Paraná chegou em setembro, desmontado. Durante cerca de 30 dias foi montado por equipes da empresa chinesa em um espaço em Pinhais, onde também foram realizados os primeiros testes do veículo.

Em paralelo, uma garagem, que também funcionará como oficina e posto de carregamento, foi construída nos fundos do Terminal São Roque, assim como a adaptação de uma sala para servir como Centro de Controle Operacional (CCO) do veículo. É neste local que as equipes vão acompanhar todo o percurso, por meio de diversas câmeras instaladas em diferentes pontos do bonde digital, com transmissão ao vivo para o CCO.

Para guiar o BUD nos trechos autônomos, ímãs foram instalados no Terminal São Roque e na Rodovia Dep. João Leopoldo Jacomel. O objetivo é que possa ser demonstrada a tecnologia de guiagem autônoma em dois cenários distintos: o primeiro, em seu trajeto normal na rodovia; e o segundo, na chegada ao terminal.

Os terminais de ônibus também passaram por adaptações e o pavimento da Avenida Ayrton Senna da Silva, em Pinhais, passa por melhorias para que o BUD possa chegar até o terminal com mais conforto aos usuários. A Amep também capacitou quatro motoristas que vão conduzir o BUD durante as viagens.

BUD
Foto: Jonathan Campos/AEN


PIONEIRO – O Paraná será o primeiro estado da América do Sul a adotar Bonde Urbano Digital no transporte coletivo. Ele fará a linha Pinhais-Piraquara, que transporta, em média, 10 mil passageiros por dia. O BUD fará a linha direta, sem paradas intermediárias no caminho. Os veículos tradicionais continuarão operando normalmente.

O Estado tem como referência o projeto realizado em Campeche, no México, o 1º sistema implantado na América do Norte. Em operação comercial desde junho deste ano, conta com uma linha guiada de 15 quilômetros, sendo cinco deles de condução automática segregada, com 13 estações. O tempo de implantação completa do sistema mexicano foi de 14 meses. O sistema já é utilizado também em cidades da China e está em processo de instalação na Austrália.

O BUD tem chamado a atenção de estados, municípios e também de outros países. Uma comitiva de prefeitos de Santa Catarina e representantes do governo do Mato Grosso vieram até o Paraná conhecer o projeto e acompanhar a montagem do sistema. O mesmo ocorreu com representantes de cidades argentinas, como Buenos Aires e Córdoba, e dos governos da Costa Rica, Colômbia e Chile.

Segundo a prefeita de Pinhais, Rosa Maria, o BUD contribui para melhoria na mobilidade e na qualidade do transporte coletivo. “Nos sentimos privilegiados por ter sido escolhidos nesse trajeto. Somos uma das cidades mais sustentáveis do Paraná e do Brasil, e ter um transporte inovador e sustentável combina muito com o nosso perfil”, disse.

“Piraquara é uma cidade em que praticamente 100% de sua área é de preservação. Ter um veículo sustentável tem tudo a ver com o município. Nós ficamos honrados, privilegiados e agradecidos por essa oportunidade de ter um veículo inovador que vai facilitar a vida das pessoas”, complementou o prefeito de Piraquara, Marcus Tesserolli.

PRESENÇAS – Participaram da viagem inaugural do BUD o vice-governador Darci Piana; os secretários estaduais Luizão Goulart (Administração e Previdência), Alex Canziani (Inovação e Inteligência Artificial), Ulisses Maia (Planejamento) e Sandro Alex (Infraestrutura e Logística); o subchefe da Casa Civil, Lúcio Tasso; os diretores presidentes do Detran-PR, Santin Roveda, e do DER/PR, Fernando Furiatti; o presidente da Assembleia Legislativa, Alexandre Curi; os deputados estaduais Marli Paulino, Flávia Francischini, Márcia Huçulak e Fábio Oliveira; o prefeito de Cuiabá, Abilio Brunini, que também deve implementar a tecnologia; e demais autoridades.

GALERIA DE IMAGENS