Primeiro título de mestre a aluna surda coroa esforço de inclusão na Unespar

A pedagoga Aline Pedro Feza, que concluiu o Mestrado Profissional em Educação Inclusiva em Rede Nacional (Profei), recebeu seu certificado no início da semana, na reitoria da instituição, em Paranavaí, no Noroeste do Estado. Núcleo de Educação Especial Inclusiva da Unespar foi decisivo para a conquista.
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21/08/2025 - 16:30
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A Universidade Estadual do Paraná (Unespar) concedeu, pela primeira vez, um título de mestre para uma pessoa surda. A pedagoga Aline Pedro Feza, que concluiu o Mestrado Profissional em Educação Inclusiva em Rede Nacional (Profei), recebeu seu certificado no início da semana, na reitoria da instituição, em Paranavaí, no Noroeste do Estado.

Enquanto a estudante alcançou uma vitória pessoal e profissional, ao completar esse ciclo com a dissertação “Letramento Visual e/no Processo de Apropriação da Língua Portuguesa Escrita pela Criança Surda”, a universidade alcançou um novo patamar de reconhecimento no campo da educação inclusiva.

“Na Unespar, nós temos o Núcleo de Educação Especial Inclusiva (NESPI), e esse núcleo é composto por docentes, agentes universitários, estudantes, atuando em várias frentes para garantir a inclusão e a acessibilidade. A depender da necessidade do estudante, o NESPI proporciona o atendimento individual, por meio da equipe”, explicou a professora Analéia Domingues, pró-reitora de políticas estudantis e direitos humanos da Unespar.

“Têm direito a esse atendimento especial as pessoas com deficiência ou as neurodivergentes, além daquelas que têm dificuldades de aprendizagem advindas do contexto, como estudantes acima de 50 anos”, prosseguiu a pró-Reitora.

O trabalho não é somente reativo, mas também voltado a antecipar as necessidades de reforço logístico ou acadêmico para esse grupo. “Temos também na equipe um docente, que é o nosso professor de atendimento educacional especializado, responsável por articular, junto aos colegiados dos cursos, o plano educacional individualizado, para apoio pedagógico especializado para esses estudantes”, revelou.

A importância dessa estrutura é elogiada pela nova mestre, que também é professora, ou seja, conhece os desafios do mundo do ensino. “Minha orientadora ajudou muito e teve muita paciência. Quando necessário, ela falava devagar, alto e articulando bem as palavras, até repetia várias vezes as explicações do que eu precisava fazer”, afirmou Aline Feza, que faz carreira na rede pública de educação de Maringá.

Aline perdeu a audição gradualmente, a partir da adolescência. Por conta de uma doença autoimune e do fator genético, entrou na graduação com 70% de audição em um dos ouvidos, mas aos 18 anos já apresentava apenas 25% de audição em um ouvido e 7% no outro. Na Unespar, contou com o apoio de um intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) em todas as aulas. Segundo ela, sempre teve também o respeito dos colegas e dos profissionais da instituição, durante o curso iniciado em 2023.

O vice-reitor da Unespar, Carlos Alexandre Molena Fernandes, reforçou que a conquista de Aline representa um marco para a instituição. "Este momento simboliza o compromisso da Unespar com a inclusão e a valorização da diversidade. O título concedido à Aline não é apenas um reconhecimento acadêmico, mas também um exemplo de superação e de que a universidade deve estar aberta e preparada para garantir oportunidades a todas as pessoas", destacou.

E o NESPI não se restringe à sala de aula para dar condições adequadas de aprendizado a esses estudantes que já precisam superar dificuldades para chegar e se manter no ambiente acadêmico. “Os núcleos atendem a comunidade por meio de ações educativas para sensibilizar e combater violências e preconceitos, principalmente contra pessoas com deficiência”, ressaltou. 

“Nosso trabalho inclui intérprete de libras a pessoas surdas; guia e intérprete para pessoas cegas e surdas; regulamentação de uso de animal de apoio emocional; busca por acessibilidade física, como chão-pátio, rampas, acessibilidade digital, com média de 40 estudantes atendidos em cada campus”, concluiu Analéia Domingues. A Unespar tem sete câmpus em seis cidades: Apucarana, Campo Mourão, Curitiba, Paranaguá, Paranavaí e União da Vitória.

INCLUSÃO – A Lei Federal n.º 13.146/2015 assegura que estudantes surdos sejam acompanhados por intérpretes de Libras durante a trajetória acadêmica. Na Unespar, esses profissionais são credenciados na Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), garantindo qualidade no atendimento. Em 2023, a Pró-Reitoria de Políticas Estudantis e Direitos Humanos da universidade publicou um documento de orientação para os campi com os procedimentos para solicitação e contratação de intérpretes de Libras.

No Paraná, as sete universidades estaduais atuam efetivamente com políticas de inclusão para pessoas com algum tipo de deficiência, reservando inclusive 5% das vagas dos vestibulares para candidatos PCDs. Entre os mais de 61 mil estudantes de graduação, 1.151 são pessoas com deficiência.

A universidade com o maior número de matriculados é a Universidade Estadual de Londrina (UEL), com 281 alunos enquadrados como PCDs. A Unespar é a segunda nessa lista, com 274; seguida pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), com 200; pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), com 137; Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), com 108; Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), com 93; e a Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), com 58.

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