A Universidade Estadual do Paraná (Unespar) concedeu, pela primeira vez, um título de mestre para uma pessoa surda. A pedagoga Aline Pedro Feza, que concluiu o Mestrado Profissional em Educação Inclusiva em Rede Nacional (Profei), recebeu seu certificado no início da semana, na reitoria da instituição, em Paranavaí, no Noroeste do Estado.
Enquanto a estudante alcançou uma vitória pessoal e profissional, ao completar esse ciclo com a dissertação “Letramento Visual e/no Processo de Apropriação da Língua Portuguesa Escrita pela Criança Surda”, a universidade alcançou um novo patamar de reconhecimento no campo da educação inclusiva.
“Na Unespar, nós temos o Núcleo de Educação Especial Inclusiva (NESPI), e esse núcleo é composto por docentes, agentes universitários, estudantes, atuando em várias frentes para garantir a inclusão e a acessibilidade. A depender da necessidade do estudante, o NESPI proporciona o atendimento individual, por meio da equipe”, explicou a professora Analéia Domingues, pró-reitora de políticas estudantis e direitos humanos da Unespar.
“Têm direito a esse atendimento especial as pessoas com deficiência ou as neurodivergentes, além daquelas que têm dificuldades de aprendizagem advindas do contexto, como estudantes acima de 50 anos”, prosseguiu a pró-Reitora.
O trabalho não é somente reativo, mas também voltado a antecipar as necessidades de reforço logístico ou acadêmico para esse grupo. “Temos também na equipe um docente, que é o nosso professor de atendimento educacional especializado, responsável por articular, junto aos colegiados dos cursos, o plano educacional individualizado, para apoio pedagógico especializado para esses estudantes”, revelou.
A importância dessa estrutura é elogiada pela nova mestre, que também é professora, ou seja, conhece os desafios do mundo do ensino. “Minha orientadora ajudou muito e teve muita paciência. Quando necessário, ela falava devagar, alto e articulando bem as palavras, até repetia várias vezes as explicações do que eu precisava fazer”, afirmou Aline Feza, que faz carreira na rede pública de educação de Maringá.
Aline perdeu a audição gradualmente, a partir da adolescência. Por conta de uma doença autoimune e do fator genético, entrou na graduação com 70% de audição em um dos ouvidos, mas aos 18 anos já apresentava apenas 25% de audição em um ouvido e 7% no outro. Na Unespar, contou com o apoio de um intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) em todas as aulas. Segundo ela, sempre teve também o respeito dos colegas e dos profissionais da instituição, durante o curso iniciado em 2023.
O vice-reitor da Unespar, Carlos Alexandre Molena Fernandes, reforçou que a conquista de Aline representa um marco para a instituição. "Este momento simboliza o compromisso da Unespar com a inclusão e a valorização da diversidade. O título concedido à Aline não é apenas um reconhecimento acadêmico, mas também um exemplo de superação e de que a universidade deve estar aberta e preparada para garantir oportunidades a todas as pessoas", destacou.
E o NESPI não se restringe à sala de aula para dar condições adequadas de aprendizado a esses estudantes que já precisam superar dificuldades para chegar e se manter no ambiente acadêmico. “Os núcleos atendem a comunidade por meio de ações educativas para sensibilizar e combater violências e preconceitos, principalmente contra pessoas com deficiência”, ressaltou.
“Nosso trabalho inclui intérprete de libras a pessoas surdas; guia e intérprete para pessoas cegas e surdas; regulamentação de uso de animal de apoio emocional; busca por acessibilidade física, como chão-pátio, rampas, acessibilidade digital, com média de 40 estudantes atendidos em cada campus”, concluiu Analéia Domingues. A Unespar tem sete câmpus em seis cidades: Apucarana, Campo Mourão, Curitiba, Paranaguá, Paranavaí e União da Vitória.
INCLUSÃO – A Lei Federal n.º 13.146/2015 assegura que estudantes surdos sejam acompanhados por intérpretes de Libras durante a trajetória acadêmica. Na Unespar, esses profissionais são credenciados na Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), garantindo qualidade no atendimento. Em 2023, a Pró-Reitoria de Políticas Estudantis e Direitos Humanos da universidade publicou um documento de orientação para os campi com os procedimentos para solicitação e contratação de intérpretes de Libras.
No Paraná, as sete universidades estaduais atuam efetivamente com políticas de inclusão para pessoas com algum tipo de deficiência, reservando inclusive 5% das vagas dos vestibulares para candidatos PCDs. Entre os mais de 61 mil estudantes de graduação, 1.151 são pessoas com deficiência.
A universidade com o maior número de matriculados é a Universidade Estadual de Londrina (UEL), com 281 alunos enquadrados como PCDs. A Unespar é a segunda nessa lista, com 274; seguida pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), com 200; pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), com 137; Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), com 108; Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), com 93; e a Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), com 58.