Startup incubada no Tecpar ajusta "juridiquês" dos contratos com inteligência artificial

Tornar acessível a linguagem jurídica para toda a população é o objetivo da startup Crewtech, a mais jovem incubada do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). O Dr. Silva Cidadão, uma ferramenta de IA de cunho educacional tem objetivo de traduzir esses termos complexos e garantir segurança ao cidadão ao assinar contratos.
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08/12/2025 - 13:10

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Preocupada em estudar aplicações de Inteligência Artificial (IA) que abram essa tecnologia para o cidadão comum, a Crewtech, startup apoiada pela Incubadora Tecnológica do Tecpar (Intec), explorou diversas áreas e se deparou com alguns dados preocupantes: cerca de 90% dos brasileiros assinam contratos sem ler e sem entender seus direitos e deveres, além do alto índice de contratos com cláusulas abusivas, deliberadamente contrárias à lei.

Com base nesses dados, a startup, idealizada pelos sócios Flávio Berçalini, Daniela Rosa e Pedro Fabro, identificou o problema central por trás de todo esse “juridiquês”, ou seja, a linguagem técnica jurídica, que acaba afastando as pessoas do entendimento real do que estão assinando.

Uma vez mapeado o problema, encontrar o caminho da solução ficou mais claro. Assim surgiu o Dr. Silva Cidadão, uma ferramenta de IA, de cunho educacional, com o objetivo de traduzir esses termos complexos para uma linguagem acessível a todas as pessoas, democratizando o acesso à informação jurídica e incentivando os cidadãos a tomarem decisões mais conscientes. Em 2025 o projeto da Crewtech passou a contar com o apoio da incubadora do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar).

De acordo com o gerente do Creative Lab do Tecpar, Rogério Moreira de Oliveira, o desenvolvimento deste projeto com o apoio do Tecpar não significa somente a construção de uma nova startup, mas sim viabilizar uma mudança cultural, que pode beneficiar toda a sociedade e tornar o sistema de justiça mais eficiente.

“A Intec viu na tecnologia da Crewtech não apenas uma ferramenta de IA, mas a construção de um ecossistema de educação jurídica, que pode influenciar culturalmente a forma como os brasileiros se relacionam com contratos e documentos legais. É um projeto com forte cunho social e gratuito. Não se trata apenas de criar uma startup, mas elaborar uma ferramenta educativa que pode se integrar profundamente com o setor público”, destaca o gerente.

 “Quando uma pessoa assina um contrato sem entender completamente o que está ali, ela está se colocando em uma posição bastante vulnerável. Os riscos são bem concretos e podem impactar significativamente a vida financeira e jurídica. Quando você não entende o ‘juridiquês’, acaba aceitando condições que podem ser ilegais, como multas desproporcionais, juros abusivos, taxas escondidas e outras questões que violam seus direitos básicos como consumidor”, explica Berçalini.

Esses contratos assumidos sem conhecimento, geram um comprometimento financeiro não planejado, pois sem clareza sobre encargos e obrigações, a pessoa pode assumir dívidas que não cabem no orçamento, levando ao endividamento grave.

Para Berçalini, outro ponto crítico é a dificuldade para recorrer judicialmente. “Quando surge um problema e o cidadão precisa contestar algo, sua assinatura representa que você concordou com tudo, tornando o processo de contestação complicado e custoso. Sem falar no risco que as pessoas não percebem: a perda de direitos fundamentais, porque muitos contratos têm cláusulas que limitam garantias legais, e quem assinou pode estar abrindo mão de proteções importantes sem nem saber”, pontua o empresário. 

NA PRÁTICA – Inicialmente a Crewtech pensou em desenvolver um aplicativo gratuito para a população, mas logo percebeu que isso criaria barreiras de entrada, tanto no custo do projeto – que tem cunho social – quanto no acesso da população. Então veio a decisão estratégica: integrar a solução diretamente no WhatsApp. “E os números nos deram razão, pois 99% dos smartphones no Brasil tem o WhatsApp instalado. Não fazia sentido criar obstáculos quando já existe uma plataforma universal, acessível e familiar para todos”, diz o empreendedor.

Agora a tecnologia está na fase de aprimoramento do "cérebro" da IA. O Dr. Silva já foi treinado com toda a base da legislação brasileira e toda a legislação complementar relevante. Também estão sendo incorporadas leis e regulamentações estaduais ao sistema. Na próxima fase, será implementado um módulo específico para receber e processar leis municipais.  

O CEO da Crewtec, acredita que apoio do Tecpar é estratégico e indispensável para a sustentabilidade do Dr. Silva a longo prazo. “O Tecpar traz algo único, que é o conhecimento profundo das engrenagens governamentais e credibilidade institucional. Eles entendem como funcionam as estruturas de governo e sabem navegar pelos processos que envolvem parcerias públicas, o que vai viabilizar a abertura de portas institucionais em governos estaduais e municipais, secretarias e órgãos públicos, portas que sozinhos levaríamos anos para abrir”, celebra Berçalini.

O diretor-presidente do Tecpar, Eduardo Marafon, aponta que o apoio da incubadora do instituto tem esse intuito: dar as diretrizes de negócio às empresas incubadas focado na viabilidade dos novos negócios. “Como empresa pública do Governo do Estado e braço de inovação no Paraná, o Tecpar busca promover um ambiente de negócios inovador, com foco no desenvolvimento social e econômico no Estado. Com essa nova tecnologia apoiada pela incubadora, ganham os cidadãos com uma inovação que pode facilitar as suas vidas”, afirma.

EDITAL ABERTO – A Intec está com edital aberto para novos ingressos de empresas ou startups no seu programa de incubação. Estão sendo selecionadas empresas de base tecnológica que tenham propostas de produtos, serviços ou modelos de negócio inovadores. Para se candidatar a uma vaga, os participantes precisam demostrar inovação em seu projeto, conforme critérios que serão avaliados por uma banca examinadora. O edital pode ser consultado AQUI.

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