Tecnologia e ações em equipe: cooperativa mirim transforma rotina de alunos em Sarandi

30 alunos do Colégio Estadual Cívico-Militar Vereador Luiz Zanchim vivem a experiência de integrar uma cooperativa mirim. A iniciativa, desenvolvida durante o curso técnico em Desenvolvimento de Sistemas, tem transformado a rotina da escola e a aprendizagem dos estudantes.
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29/10/2025 - 10:50
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Colegas de classe, mas também sócios e cooperados. Desde agosto, 30 alunos do Colégio Estadual Cívico-Militar (CCM) Vereador Luiz Zanchim, em Sarandi, no Noroeste do Estado, vivem a experiência de integrar uma cooperativa mirim. A iniciativa, desenvolvida durante o curso técnico em Desenvolvimento de Sistemas, tem transformado a rotina da escola e a aprendizagem dos estudantes.

O projeto foi criado em parceria com a instituição financeira Sicoob, que ofertou um curso sobre cooperativismo aos estudantes do colégio. Motivados pelo treinamento, professores e alunos do curso técnico decidiram criar uma cooperativa para facilitar o registro de sistemas, softwares e aplicativos desenvolvidos nas aulas. Assim, surgiu a Zancooper, a cooperativa-mirim do CCM Vereador Luiz Zanchim, que conta com CNPJ, estatuto e diretoria próprios.

A cerimônia de lançamento e constituição da cooperativa ocorreu no início de agosto, no próprio colégio, e reuniu autoridades locais e representantes do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Maringá, além de estudantes, professores e membros da comunidade escolar.

Durante o evento, a estudante da 2ª série do Ensino Médio, Brenda Caroline Rudnick, de 16 anos, foi eleita a primeira presidente da recém-criada cooperativa. “Nunca tinha participado de um projeto parecido. Passamos por várias etapas e conhecemos como funciona uma cooperativa. Depois, fui escolhida pelos colegas para ser a presidente e fiquei muito feliz em poder representar o grupo e ajudar na organização”, afirma a jovem.

Além da presidente, os cooperados ainda elegeram vice-presidente, secretários, tesoureiros e membros do conselho fiscal da Zancooper. O estatuto social, que regulamenta as atividades da cooperativa, também foi aprovado por unanimidade.

AUTONOMIA E PROTAGONISMO – Adesão voluntária livre, gestão democrática, intercooperação e autonomia são alguns dos princípios fundamentais do cooperativismo, que serviram de base para a criação da Zancooper. Além das aulas nos laboratórios de Informática e Robótica, os estudantes têm vivenciado o dia a dia de assembleias, votações e discussões coletivas sobre as ações do grupo.

“Ser cooperada já me trouxe várias vantagens. Aprendi sobre trabalho em equipe, liderança, tomada de decisões, comunicação e responsabilidade. Tudo isso me ajudou a crescer pessoal e profissionalmente”, acrescenta Brenda, que já pensa em seguir carreira profissional nas áreas de tecnologia e cooperativismo.

No colégio, a orientação ao projeto fica a cargo do coordenador do curso técnico, professor Antônio Signorini, e dos professores Rodrigo Dias, Eliel Nascimento, Gabriel Glatz e André Bertolo. Interdisciplinar, a iniciativa já transcendeu as aulas técnicas em Desenvolvimento de Sistemas, e tem sido trabalhada junto a outras áreas do conhecimento, como Projeto de Vida e Empreendedorismo. Pouco mais de dois meses após a implantação da Zancooper, os docentes já têm notado maior autonomia e participação dos alunos.

“Temos visto que os alunos estão mudando completamente de comportamento. Estão mais autônomos, mais comprometidos e, consequentemente, mais interessados nas aulas. O objetivo é justamente despertar o interesse pelo curso e que eles aprendam a se comportar como donos dos seus próprios negócios”, afirma Signorini.

Incentivador da criação do projeto, o Sicoob também tem apoiado os estudantes com acompanhamento frequente, mentorias e a promoção de visitas técnicas às instalações da empresa. Um curso de oratória, por exemplo, foi ofertado aos alunos e ajudou os cooperados a desenvolverem habilidades de comunicação em grupo.

“Também vemos uma maior disponibilidade de alunos querendo trabalhar. Estamos com dezenas de alunos trabalhando no Jovem Aprendiz, e temos várias empresas que já nos pediram o currículo dos alunos para que sejam ingressados”, destaca o coordenador.

INOVAÇÕES E TRANSFORMAÇÃO – Uma das principais vantagens da Zancooper é permitir o registro oficial de softwares e aplicativos criados pelos cooperados durante as aulas de Desenvolvimento de Sistemas. Futuramente, com aprovação da junta comercial local, os produtos poderiam, até mesmo, ser comercializados pelos cooperados.

Enquanto isso, boa parte dos inventos já vem sendo implantada e testada no próprio colégio. O primeiro aplicativo desenvolvido foi um sistema de automação da biblioteca da escola - com o programa, as bibliotecárias podem cadastrar livros e estudantes, bem como controlar empréstimos e devoluções, de forma digital.

Outro software, também já concluído, é um aplicativo para sugestões e reclamações da comunidade escolar. Estudantes, professores e funcionários podem acessar a plataforma e registrar uma mensagem, direcionada automaticamente ao setor responsável.

Além disso, em fase de finalização, está um sistema de controle de horários dos cinco laboratórios da escola – três de Informática, um de Robótica e um de Física, Química e Biologia –, utilizados por professores e alunos de diferentes níveis escolares.

“Isso tem incentivado os alunos a participarem das aulas e a aprenderem. Cada um tem uma ideia de construir alguma coisa. Esses dias, por exemplo, surgiu a ideia de fazer um varal retrátil. Quando chove, a placa de energia solar, que recebe os pingos d'água, dispara um sinal para recolher o varal para uma área coberta. Achamos super interessante e demos autonomia para o aluno pensar nisso”, exemplifica Signorini, sobre o processo de criação das invenções.

Para o próximo ano, a expectativa é expandir a iniciativa a estudantes de outras séries e áreas do conhecimento, alcançando, por exemplo, alunos do curso técnico em Agronegócio. Iniciativas como a criação de uma horta e uma minifazenda também já estão em implantação, compartilhando os princípios do cooperativismo.

“Já estamos em contato para fazer novos cursos de treinamento, para mais alunos, no início do ano que vem”, projeta Signorini. “Hoje, podemos dizer com todas as letras que a cooperativa está transformando o colégio. Ainda é uma semente, mas uma semente que foi muito bem plantada”.

COLÉGIOS CÍVICO-MILITARES – Conforme a direção escolar, a combinação entre educação profissional e modelo cívico-militar também é uma das responsáveis pelo sucesso da cooperativa. A disciplina e o engajamento dos estudantes viabilizam parcerias com outras instituições e a realização de projetos inovadores, como a Zancooper.

“O modelo faz toda a diferença, porque nossos alunos são diferenciados e valorizados pela disciplina, engajamento nos estudos, frequência e notas. Então, tem sido uma experiência muito boa o curso técnico no modelo cívico-militar”, opina o diretor do CCM Vereador Luiz Zanchim, Roberson de Souza.

Implementada a partir de 2020 pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Educação (Seed-PR), a educação cívico-militar combina elementos da gestão civil com a presença de profissionais militares da reserva (inativos) na administração e na rotina escolar. Atualmente, o Estado conta com 312 colégios cívico-militares, que atendem cerca de 190 mil estudantes.

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